segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vivendo a Estrada Real...ou seria estrada Surreal


Ainda estou meio que com os pés no pedal  vivendo todos esses sete  dias que foram inesquecíveis viajando de bicicleta, como acho que tudo nessa vida que é apenas um leve e passageiro sopro deve ser.

Em amarelo todo trecho percorrido de bike.

Eu e Kico estávamos planejando uma viagem para o sul do Brasil em Agosto, mas tivemos que mudar nossos planos por várias coisas que aconteceram ao longo dos meses, nada deixou de ser especial por isso, o sul ainda continua nos nossos planos  de cicloturismo.

Então começamos a pesquisar uma viagem pelo Gandarela, eu pedi algumas dicas ao querido Bernardo da banda Músicas do Espinhaço que é um conhecedor daqueles caminhos...e que caminhos.

Partimos então eu , Kico nossas magrelas lotadas  rumo ao Gandarela, na realidade fizemos um pequeno trecho da Serra do Gandarela, Caraça e inúmeros trechos da estrada real.

1º dia -  BH / Sabará/Morro Vermelho – 51Km -26km Terra

Saímos de BH no dia 30 de Junho, o Kico chegou aqui em casa com a bike linda, toda montada, os alforjes até piscando de vontade de pegar logo a estrada.Eu senti toda emoção nos olhos dele é a liberdade das amarras da sociedade que a bicicleta nos proporciona.


Despedida na porta de casa Raulzito, ainda levo ele comigo



O trecho até Sabará é bem chatinho, tendo que ter muita atenção por que passamos pela Cristiano Machado, com as bikes pesadas, tem que ter cuidado qualquer buraco que se passa rápido demais a magrela puxa pra um lado, rabeia pro outro e o bagageiro pode quebrar.

Saímos da minha casa as 10h00 da manha do domingo o coração acelerou, afinal esse foi um roteiro as cegas, saímos sem saber o que nos aguardava, mas pra quem tem coração de criança, a aventura do por vir é fascinante. Como minha sogra sempre diz: “Ah essas crianças.”

Quando chegamos na entradinha da estrada que da pra Sabará, tomamos um belo caldo de cana pra repor as forças, uma coisa que já disse, viagem de bike tem que comer pelo menos de duas em duas horas pra repor  as energias.

O dia estava lindo, o céu azul, a brisa de inverno ajudava no trajeto, na BR tinha um pequenos restaurante, bem exótico por sinal onde eu e Kico resolvemos parar pra almoçar, já era quase meio dia e a fome bateu. Comemos um  belo frango com ora pro nobis e conhecemos dois parceiros da bike que passeavam pelo Domingo e acabaram nos dando ótimas dicas para nosso louco trajeto.

Dono do Restaurante e Kico


Galera da bike que nos deu a dica do trajeto valeuuuu


Seguimos nossa viagem buscando a estrada real e encontramos o primeiro marco, fizemos um dos trechos conhecido como Sabarabuçu, a terra vermelha brilhava como diamante nossas ricas terras onde o minério brota por todos os cantos.
Inúmeras linhas de trem cruzaram nosso caminho nesse trecho da estrada real o trem lotado de minério indo e vindo.


Marco da Estrada Real, trecho Sabarabuçu



Algumas subidas marcaram esse trecho, algumas paisagens lindas no final do dia, finalmente chegamos a Morro Vermelho um lugarejo onde os costumes do interior ainda prevalecem, assistimos uma pequena procissão diferenciada, pois além dos cânticos a Maria uma banda começava a tocar alegremente ao final de cada reza, achei interessante.




Morro Vermelho não tem pousada ou área de camping, mas tem gente de coração puro como foi o caso do Bartolomeu a quem fomos pedir informação sobre área de camping e gentilmente ele nos cedeu um cantinho coberto para armarmos nossa barraca e banho quente...um pouso, um aconchego de um lar tipicamente mineiro, simples mas muito acolhedor e cheio de história. A esposa do Bartolomeu chegou meio assustada  quando nos viu em sua casa, mas logo quebrou-se o gelo e ficou tudo bem.Ela fez um jantar muito gostoso, comida de olhar pro céu e agradecer.

Cantinho gentilmente cedido pelo Bartolomeu pra gente passar a nossa noite

Quando amanheceu, pegamos estrada novamente e deixamos aquela linda família pra traz com certeza eles terão uma história interessante pra contar.

2º dia – Morro Vermelho – Nos perdemos –  Acampamento Selvagem -24 km Terra

As vezes a gente precisa se perder pra acabar se encontrando e realizando coisas ainda maiores, nos perder marcou o segundo dia da nossa viagem, o Bartolomeu nos explicou como deveríamos fazer pra chegar até Socorro, passando pelo vilarejo de André do Mato Dentro.

E dale subida negada e muita disposição, são várias encruzilhadas que realmente nos confundem bem, chegamos a um local onde havia muita madeira cortada, deduzimos de cara que haveria alguma carvoaria ali por perto e fomos seguindo por essa estradinha buscando informação sobre como chegar a cidadezinha de Socorro.




Carvoaria
Do alto da estrada avistamos os fornos da carvoaria e logo mais a frente um pessoal a cavalo, conseguimos nossa informação e seguimos pela estrada até que chegamos as tais bifurcações que o Bartolomeu tinha nos dito, o povo no interior da informação numa linguagem muito peculiar  tem que ficar atento.

Ai minha gente chegamos na parte da estrada que virou confusão na cabeça, várias estradinhas, o Kico deixou eu ser o GPS ai ai ai....kkkkkkkk.....ferrou tudo.



Seguimos pelo caminho que pela “lógica” eu achei estar correto, mas mesmo a minha lógica estando errada valeu cada segundo desse erro, descemos muito morro, e o Gandarela no agraciou, cadeias de montanhas maravilhosas a se perderem de vista, florestas fechadas, mais uma vez a floresta de samambaias que lembra o Congo nos agraciou, eu lembrei na hora do apelido carinhoso que dei na época da travessia da Lapinha.... “Congo Mineiro”.











Logo percebemos que havia algo de errado, Kico deixou a bike no caminho e subiu a pé até a carvoaria pegou a informação de que estávamos no caminho errado, eu já estava morta, na descida havíamos encontrado um cantinho na estrada com uma pequena clareira que ficava nas margens do rio, então resolvemos voltar pra la e acampar nesse local.

Tínhamos que pegar o restinho de sol pra tomar coragem de tomar banho no rio gelaaaaado mas maravilhoso que seria nesse segundo dia nossa casa.

Acampamento Selvagem

Tomamos banho no rio ajeitamos as coisas, e montamos nosso acampamento ali em meio a natureza, cercado de belas árvores e nossa “hidromassagem” natural de águas cristalinas, não tem como negar o Gandarela é uma imensa “caixa d’agua”.

Preparamos nosso jantar, somente o barulho da floresta ao nosso redor e um céu digno do nosso silêncio nos acompanhava, fizemos alguns alongamentos pra colocar coluna, músculos e o que mais desse no lugar.

Devidamente alimentados fomos nos deitar, sacos de dormir a postos me encostei no peito do meu lindo e dormi ali vendo as estrelas, quentinha sob o abraço do meu amor e sob a proteção das forças da natureza.

3º Dia – Acampamento Selvagem/Caraça – 50km -30km de Terra

Quando amanheceu começamos a levantar acampamento e já sabíamos o que nos aguardava muita subida apesar de termos feito apenas 24km no segundo dia foram 24km de muito morro e de descida então com o erro adivinhem????Subida, muita, muita subida várias vezes eu tive que empurra a bike, fiquei nervosa(risos) essa parte foi engraçada por que eu queria jogar todas as minhas roupas do alforje fora pra ver se minha “ancora” ficava mais leve.Meninas pelo amorrrr de DEUS pra viajar de bike levem somente 5 peças de roupa e ainda é muito acreditem.

A subida foi sofrida, pensamos que havíamos passado muito da entrada, bateu um certo desânimo nessa hora e o Kico assumiu a liderança de ser o GSP ...kkkkk.....decisão mais acertada, mas valeu pela confiança de me deixa tentar, de me deixar sentir!! (risos)
Pra nossa grande surpresa e alegria a entrada certa estava mais perto do que havíamos imaginado....uhullll ai foi festa, seguimos alegres novamente a paisagem cada vez mais linda e se modificando a cada pedalada.







Cidade de Socorro


André do Mato Dentro, pequeno lugarejo que foi nossa parada rápida pra informação se estávamos próximos ou não de Socorro, Kico pegou cana pra gente na casa de um senhor que nos deu informação e fomos nós descendo pelos mares de morros.

Finalmente Socorro que lugar mais lindo, cidadezinha bucólica, espremida entre as montanhas com as bandeirinhas típicas da festa Junina penduradas pelas ruas, vestígio de alguma festa da noite anterior.

Resolvemos almoçar e que almoço bom, tomamos uma cerveja pra comemorar ajeitamos nossas coisas e nos despedimos de Socorro que com certeza precisa ser passagem dos cicloturistas que se aventurarem por esses caminhos.Um pequeno oratório de nossa senhora na saída da cidade nos abençoou mais estrada pela frente.

Nossa próxima parada a Serra do Caraça, passamos por vários locais lindos, várias placas pelo caminho da poderosa Vale do Rio Doce, uma delas me fez arrepiar o corpo inteiro: PROJETO APOLO, guardem bem esse nome, por que essa mina fará uma destruição de 8km de extensão pelo Gandarela infelizmente....


Mai um lugarejo pelo nosso caminho rumo ao caraça Vila Congo, passamos rapidamente, mas nada passou despercebido pelo olhares desconfiados dos moradores que deviam se perguntar quem são esses doidos nessas bicicletas estranhas(risos).

É bonito demais quando a gente percebe que essa tradição mineira ainda não se perdeu, que esse aconchego que o mineiro do interior traz consigo ainda prevalece, muito me emocionou  os olhares, a simplicidade e a qualidade de vida dessa gente!

Quando chegamos  a Barão de Cocais, antigo distrito do município de Santa Bárbara, que foi elevado à categoria de município em 31 de dezembro de 1943, a matriz de São João Batista nos encheu os olhos, ficamos bem animados estávamos bem próximos ao Caraça que seria nosso pouco nesse dia.



Seguimos dessa vez pelo asfalto e até a entrada do caraça a belíssima cadeia de montanhas nos engoliu, Kico vibrou de emoção e eu claro na mesma sintonia.





















Infelizmente esse foi um dia que não terminou como gostaríamos, não conseguíamos lugar pra ficar, não conseguíamos informações pertinentes, e nos deparamos com a precariedade do serviço turístico não so do Caraça, mas de várias cidadezinhas pelas quais passamos.


















Começamos a ficar preocupados, pois já estávamos cansados, esgotados da viagem e não conseguíamos pouso, foi quando o Kico disse: “Minha linda, eu não sei pra onde vamos.”

Acho que nessas horas a velinha que a Dona Marina(minha sogra) deixa acesa pro Kico iluminou nosso caminho e chegamos até uma pousadinha onde conseguimos um desconto na estadia.Finalmente um lugar pra passar mais essa noite, cama quentinha,chuveiro com água quentinha e no dia seguinte um belo e farto café da manha.






O Sérgio e sua esposa donos dessa pousada que ficamos(Pousada Flores de Minas) pessoas incríveis que no atenderam muito bem, com muita atenção e também deixaram saudade.

4º Dia – Caraça/Catas Altas – 25Km – 20Km de Terra

Ainda na pousada tomamos nosso café da manha e enquanto o Kico usava a internet pra resolver algumas coisas do trabalho dele, eu lavava as bicicletas pra tirar toda terra, atividade essa que era diária, viajar por terra requer limpeza das magrelas pra que nada saia errado.

Bikes devidamente limpas e lubrificadas, nos despedimos do Sérgio e sua esposa e partimos, mas como já tínhamos sáido um pouco tarde resolvemos almoçar em Brumal que é a cidade onde fica essa pousada na entradinha do Caraça mesmo.

Acabou que encontramos um senhor que tinha uma pousada e um lugar que teria servido de pouso pra gente acampar no Caraça, mas tudo bem fica pra próxima. Almoçamos conversamos com o Dono dessa pousadinha, um senhor simples, que demos algumas ideias de como estar montando uma área de camping no terreno que ele tinha, uma pequena consultoria gratuita.(risos)

Ele adorou a ideia foi nessa hora que percebi como as pessoas não tem apoio de nada, nem da prefeitura, nem dos órgãos ligados ao turismo, senti vergonha alheia pela nossa secretaria de turismo que acha que preparar um lugar pra receber turista é so colocar plaquinhas dizendo bem vindo e volte sempre, por que as outras informações que são de praxe não existem. REVOLTADA!!!Praticamente expulsos do Caraça por falta de informação!
Mas valeu a experiência e valeu ainda mais as belíssimas paisagens...Infelizmente não conseguimos conhecer o Santuário do Caraça.

Fomos então em direção a Catas Altas, estávamos ansiosos não há palavras que possa descrever com tamanha riqueza de detalhes as paisagens que fomos vendo ao longo do caminho ate Catas Altas, seguindo os marcos da estrada real, cada qual nos presenteava com belas histórias, que nos fazia viajar no tempo e espaço.

Faltando  mais ou menos uns 12km para chegar em catas altas, nos deparamos com uma linda ruina de um grande aqueduto de pedra (Bicame de Pedra), construído com objetivo de abastecer a cidade ou a mineração. São mais ou menos uns 100 metros de monumento que tem no centro um portal com uma inscrição datada de 1792, ao lado desse portal uma escadaria de pedra que da acesso a parte superior onde eu e Kico subimos e ficamos lá admirando ao fundo a serra do Caraça.












Finalmente Catas Altas que lugar bonito, o caraça ao fundo da todo um charme ao lugar, na praça principal onde se encontra a Matriz Nossa Senhora da Conceição de 1739 encostamos nossas bikes e comemos o pastel da Lu, aliás devoramos 3 pasteis e um caldo de cana que hummmm deu ate saudade.











Encontramos uma pensão para passarmos a noite, nessa pensão tinha um quintal bem grande que dava pra gente acampar, a noite saímos pra jantar e conhecer algumas coisas, resolvemos que o dia seguinte até mesmo por várias indicações, nós ficaríamos por la pra conhecer mais a bela Catas Altas.
A noite ventou muito e fez frio nos braços do meu amor eu adormeci tranquila, quentinha e feliz.

5º Dia – Dia em Catas Altas – Dia dos Extremos

O dia em Catas Altas amanheceu propício a um passeio a procura das belas cachoeiras da região, do tal vinho de jabuticaba iguaria famosa ,principalmente depois do festival do vinho que acontece todos os anos.

Pegamos nossas magrelas agora sem o habitual peso do dia a dia e saímos  passamos pela praça central onde fica a matriz, vimos algumas capelinhas lindas construídas no inicio do século uma graça.

Tomamos nosso café e partimos dei a sugestão ao Kico de irmos ate Morro da Agua Quente pequeno  vilarejo distante 5Km de Catas Altas e a medida que fomos andando vimos a ação da Vale do Rio Doce na região.

Chamei esse de dia, de DIA DOS EXTREMOS, uma paisagem linda vista da cidade e a medida que fomos andando pela estrada de terra um cenário desolador, destruição completa das montanhas do caraça, da flora, consequentemente da fauna.Catas Altas naquele momento perdeu todo encanto e foi como se uma nuvem de tristeza caísse sobre nós.





Cachoeira destruída pela Vale ao fundo o portão


Montanhas do Caraça destruídas pela Vale.....Desolação 










O Kico olhava tudo acho que talvez com o mesmo pesar com que eu olhava, era como se a montanha, se todo aquele resto de lugar pedisse socorro...sim a natureza grita com uma força inexplicável em nosso coração.

Caminhões e caminhões de minério desciam e subiam, um cano improvisado vindo de alguma das nascentes, terminava na estrada de terra cujo um caminhão ia jogando essa mesma água a medida que a poeira ia subindo.

Simplesmente vergonhoso, um cenário de tristeza e agonia que gritou tanto no meu coração que eu chorei, chorei muito mesmo enquanto pedalava e olhava tudo aquilo.

Durante esse pequeno trajeto até Morro da Água Quente, várias manifestações em placas demonstravam a raiva e indignação das pessoas, as placas diziam: MAIS TURISMO, MENOS VALE.

Em Morro da Agua Quente o cenário também não foi bonito de se ver , parte da Serra do Caraça que cerca o vilarejo completamente destruída, dois meninos vinham da aula e paramos pra conversar com eles pra perguntar onde se tinha uma cachoeira pra podermos ir.

E os meninos com aquele jeito de criança do interior foram nos falando de algumas cachoeiras, nada nos apeteceu, e a medida que os meninos iam dizendo tudo que a MALDITA Vale do Rio Doce vem fazendo com a região,  inúmeras explosões que detonaram varias cachoeiras da, inclusive as termas que haviam que resultaram no nome do vilarejo.

Tudo destruído, inclusive a dignidade daquela gente expulsa pelo capitalismo selvagem e avassalador da poderosa Vale, que inescrupulosamente invade as terras dos moradores e derrubam suas cercas. Onde esta a justiça? Esquecida nas negociações que Dona Dilma fez a portas fechadas com os poderosos da mineração do Brasil?

Resolvemos voltar para Catas Altas, durante a volta o Kico tentou escrever algo numa das placas, a pedra não ajudou muito mas a mensagem ficou la: FODA-SE A VALE!
Resolvemos subir mais, entramos numa área sem explicação da Vale, um pequeno filete d’agua que provavelmente já foi uma monumental cachoeira e um portão dizendo: “Entrada permitida somente para funcionários.”

Que legal o caraça não é mais Patrimônio Cultural é uma propriedade particular, no alto da montanha  ate onde deu pra ir com as magrelas, resolvemos fazer um pequeno treking, descemos uma trilhazinha e começamos a seguir o riozinho que cortava as pedras.

Chegamos a um lugar onde se pequenas cachoeiras ficamos la por um tempo e limpamos nosso corpo, corpo e alma da tristeza e da sensação de impotência que havia nos dominado.As águas eram cristalinas uma beleza um aconchego.

Fomos subindo até onde deu pra subir, passamos por dentro de pequenas cavernas, saímos em lugares mais lindos ainda, locais que ainda sobrevivem a destruição...não sei por quanto tempo mais.

Já era hora de voltar pra Catas Altas, tomamos um banho o Kico fez um frango na cerveja improvisado que ficou divino.Conversamos e rimos muito antes de dormir, tanta coisa boa, nos perdemos nas lembranças da infância.

Enquanto meu amor dormia, eu ouvia o barulho do vento, olhei pro céu e a noite mais uma vez me presenteou com um lindo manto de estrelas, adormeci ouvindo o barulho do trem que ia e vinha a noite inteira, matando mais e mais  o Caraça e tudo que há...Nosso quintal  estava lindo mas ao mesmo tempo essa noite ele chorou.

6º Dia – Catas Altas/Mariana – 57km- 47km de Terra

Levantamos nosso acampamento, nos despedimos da Dona Maria e da bela Vitoria sua netinha de três anos super  precoce pra idade.

Pegamos asfalto até Santa Rita Durão pequeno povoado antes de Mariana e seguimos novamente por estrada de chão que agora seria um pouco mais puxada até Mariana onde o Leo um amigo de infância do Kico nos daria pouso.



Mais uma vez a mudança de cenário na natureza nos surpreendeu, um caminho inteiro de pequenos Boulders , pra quem não sabe o Boulder é uma modalidade de escalada em rocha que é praticada sem o uso dos habituais equipamentos da escalada, esses pequenos blocos de pedra tem mais ou menos de 6 metros ou menos, escaladores corrijam-me se eu estiver errada.

O Kico chegou a brincar em um dele enquanto eu fui sua spot so não tínhamos Crash Pad mas pro Boulder em questão nem precisaríamos.






Descemos mais um trilha a   a curiosidade sempre fala mais alto e demos de cara com um lindo cânion, ficamos la pegando pedras que brilhavam e tinham formas e cores diferentes.

Precisávamos continuar nosso caminho rumo a Mariana e mais uma surpresa durante o trajeto,uma linda cachoeira de águas cristalinas, nos convidava e claro não poderíamos ser mal educados (risos).


























A estrada para Mariana nos chamava era hora de partir, subidas e mais subidas as montanhas de Mariana e Ouro Preto iam nos dando boas vindas, várias fotos e carinhos durante o caminho.

Montanhas de Mariana e Ouro Preto
Finalmente chegamos a Mariana, nos encontramos com Leo que nos recebeu maravilhosamente em sua casa com sua labradora linnnnnda Serena que também fez a festa.Ah nesse sobe e desce meu bagageiro quebrou no meio certinho(risos) sorte que o Leo pode me emprestar o dele.Também tive que deixar metade das minhas roupas na casa dele, isso aliviou bastante o peso dos meus alforjes.

A noite saímos pra dar uma relaxada, comemos uma pizza divina e tomamos uma cerveja gelada.Noite fria em Mariana no dia seguinte o árduo caminho até Ouro Preto nos esperava.

7º Dia – Mariana/Ouro Preto/São Bartolomeu – 37Km – 27km de Terra

Olha nem eu acreditei que nossa viagem já estava no final foram oito dias que passaram voando, oito dias de muito “causo” pra contar.

Mariana amanheceu um picolé, meu Deus que frio, o Leo preparava o carro pra se encontrar com sua namorada, colocou a Serena, sua cadela dentro, a magrela dele no transbike, tiramos uma foto pra registrar esse encontro e partimos todos, cada qual pro seu destino.






Leo e Serena



















Na estrada que leva a Ouro Preto o cansaço muscular já dava sinais as subidas ficaram cada vez mais penosas, mas não deixava de ser mais uma superação na trajetória que marcou esses sete dias.

Quando chegamos a Ouro Preto eu senti um orgulho muito grande de mim  mesma tanta gente achando que eu não ia dar conta e eu simplesmente não quis ter razão de nada, so quis chegar, viver todos esses momentos e ser muito, muito feliz.



























Quando chegamos a praça Tiradentes em Ouro Preto, paramos pra tomar um chocolate quente  e aquecer o peito, ligamos pra minha sogra...Quanto incentivo, quanto carinho....Oh Marina obrigado mesmo pelo apoio moral.

Na praça Tiradentes o Bruno que trabalha com turismo de aventura nos recebeu calorosamente e nos deu um trajeto muito legal que era o de seguir até São Bartolomeu, Glaura, Cachoeira do Campo e Itabirito.

Peitos devidamente aquecidos era hora de subir o morro mais sinistro que vocês possam imaginar, sinceramente eu achei que não ia aguentar, mas desistir é um palavra que passa longe, muito longe do meu dicionário. Alguns Quenianos que vinham descendo o morro começaram a fotografar eu e o Kico...kkkkkk.....viramos atração daquele morro que putz, nem eu acredito que subi tudo aquilo.





Quando cheguei no topo do tal morro que nos daria acesso a trilha real mal podia acreditar, eu estava morta, esgotada nem sei se tinha panturrilha, deve ter ficado pra traz subir um morro completamente íngreme empurrando uma bike com bagagem é pedreira, não é mole não, haja tudo pra aguentar.




Mas acima da força vem a vontade e o amor ao esporte, essas são palavras chave pra tudo que se for fazer nessa vida.

O cenário de encher os olhos, mais caminhos desconhecidos nos esperava até nossa próxima parada Glaura, mas no trajeto mais uma vez nos perdemos feio, passamos por lugares lindos de morrer, mas erramos, erramos muito e voltamos o mesmo caminho mais de uma vez, foi a primeira vez que vi o Kico dizendo um PUTA QUE O PARIU com vontade.....kkkkkkkkkkkkkkk.




Cobra que encontramos machucada no caminho pra S.Bartolomeu

Finalmente acertamos e encontramos os marcos da estrada Real,seguimos até o povoado de São Bartomeu num cenário completamente surreal, o vilarejo distante 12km de Ouro Preto datado do século XVII as margens do Rio da Velhas que funcionava como deposito de Ouro Preto era caracterizado pelo comercio na frente e as residências nos fundos.Hoje em dia ainda carrega a tradição dos doces e de uma das melhores goiabadas cascão que já comi.







Igreja que tem em sua torre esquerda um sino de madeira
















Eu queria continuar ate Glaura até que o senhor que carregava o nome da cidade o Sr Bartolomeu nos ofereceu pouso, ta certo que ele tava mais pra la do que pra ca (cachaça brava rsrsrsrs) mas acabou que meu cansaço falou mais alto e ficamos na casa do figura Sr Bartolomeu que falou e contou muito causo pra gente.

Caimos exaustos na nossa cama sob um teto gentilmente cedido por mais um bom brasileiro, por mais um acolhedor mineiro.

8º Dia –São Bartolomeu/Glaura/Cachoeira do Campo – 19km -10Km de Terra

O frio de madrugada foi feroz até pra gente que dormiu debaixo de um teto, pela manha a neblina cobria toda cidade uma visão linda e também inesquecível. O Kico fez um cafezinho gostoso pra gente tomamos nosso café e ganhamos uma goiabada de presente do Bartolomeu olha que graça?




Montamos nossas magrelas e um caminho de conto de fadas nos aguardou esse dia, cheguei a comentar com Kico que sentia que esse seria um dia de muitas surpresas e foi mesmo.

No caminho pra Glaura nos deparamos com um cenário incrível de frio e neblina intensa, meus dedos estavam congelando e a medida que vamos pedalando o frio almenta, mas nada, nada mesmo me desanimava as flores iam nos enchendo o coração de alegria, os passarinhos voavam livremente , as montanhas nos abraçavam era como uma bela despedida que a natureza nos proporcionou.

Seguimos os marcos da estrada real pra chegar até Glaura até que chegamos num marco que direcionava pra dentro de uma pequena trilha, essa trilha nos levou pra uma mata fechada, o acesso era difícil pra bike,tivemos que empurrar mas foi a trilha de bike mais top que já fiz.







Mata completamente fechada, passarinhos cantavam, folhas dançavam com as cócegas que o vento por ventura fazia, foram 2 km de trilha simplesmente maravilhosos, ate chegarmos a um descampado enorme de Single trekking que levava a Glaura.A torre da igreja matriz de Glaura apontava ao fundo no meio das arvores, uma visão única.





















Quando chegamos a cidade paramos numa espécie de “lanchonete” onde um grupo de cavaleiros havia acabado de chegar de uma cavalgada.

 Se passarem por Glaura não deixem de comer a coxinha de la, meu DEUSSSS melhor coxinha que já comi na minha vida, tão boa que eu e Kico comemos ao todo seis salgados....(risos)

Tiramos nossa ultima foto e seguimos agora em direção a Cachoeira do Carmo, Itabirito ia ficar pra depois não ia dar tempo o Kico tinha que estar em Juiz de Fora na Segunda cedo pro primeiro dia de trabalho.

No caminho encontramos o Marcelo um ciclista que vinha calmamente na sua bike e ficou conversando no meio da estrada por um bom tempo conosco, nos deu um lição de vida e sua linha de pensamento é sensacional, é como se pra encerrar nossa viagem a natureza, Deus ou seja lá o que vocês quiserem chamar tivesse nos deixado um recado.
E que recado viu?

Na rodoviária de Cachoeira do Carmo finalmente sentamos, desmontamos nossas bikes e ficamos esperando o ônibus que nos levaria até BH.Ficamos em silêncio cada um em seus pensamentos mas com sensação de missão cumprida.




No coração um aperto o mundo fictício que o homem criou nos chamava, sim fictício, a realidade é completamente diferente do que imaginamos como eu sempre havia idealizado.

Resumo da ópera

O cicloturismo é um caminho sem volta, é um caminho de profunda transformação pessoal, que te ensina coisas inimagináveis, te ensina um profundo respeito por si mesmo, pelo seu parceiro de viagem que acima de qualquer coisa é seu melhor amigo.

O cicloturismo te ensina que precisamos do outro, essa é a necessidade básica do homem, assim como os professores que encontramos pelos caminhos que fizemos nos ensinaram cada qual a sua maneira.

O primeiro Bartolomeu que nos acolheu, mostrou que devemos acreditar nas pessoas e acolher de coração aberto sem medo, o Sergio e sua esposa na pousada em Brumal na entrada do Caraça, colocando o bem estar e a acolhida acima dos lucros, nos oferecendo um desconto na estadia em sua linda pousada, em Catas Altas a simplicidade da Dona Maria e da sua família que nos deixaram usar a cozinha pra fazer nosso frango na cerveja, em São Bartolomeu a solidão e o sofrimento do Sr Bartolomeu nos mostrou no dia seguinte um ser humano carente e doce que sentiu ate um certo pesar com nossa despedida.

E finalmente o Marcelo que pra mim foi o personagem mais marcante dessa viagem, aos 42 anos de idade resolveu que queria se aposentar e ser feliz, sair das rédeas controladoras da sociedade capitalista e viver de acordo com o que seu coração pedia, na simplicidade de um dia após o outro amando sua esposa e pelo visto grande amiga e companheira.

Todos os caminhos estão certos se assim você acreditar, todos mesmo alguns mais longos e difíceis,outros fáceis, mas acredite ou não todos eles te levaram onde seu coração quiser te levar.

Ouça seu coração sempre, guarde o carro na garagem e venha pra esse mundo incrível do cicloturismo, mas prepare-se é um caminho sem volta e de grandes modificações se assim você permitir...Mas quer um conselho permita-se!!!

Foram 263km pedalados em oito dias, desses 263km, 184km foram de terra, subidas que pareciam nunca acabar, mas que guardavam uma surpresa a cada chegada, essa é magia de viajar de bicicleta, poder ver a delicadeza das pequeninas flores que crescem nas margens da estrada, ou alguma borboleta que vem perdida pousar no seu alforje, assim faceira e leve como deve ser.

Poder ficar olhando seu parceiro de longe, livre se misturando na paisagem, conseguir ver nos olhos das pessoas todas as cores que você busca incansavelmente no dia a dia e só vê sombras.

Bicicleta não serve so pra comprar, andar de vez em quando e dizer eu sou um ciclista, ela tem um poder muito maior o de te transformar num ser humano melhor, mais saudável e com visão muito maior de mundo e de vida.

Até a próxima!!