domingo, 22 de dezembro de 2013

Pedal de Natal

Na noite anterior a preocupação era geral, “E como faremos pra levar os presentes para as crianças do Instituto Educacional Missão Paz”?

A torcida pro sol vir foi grande, desenhar sol e jogar sal, colocar vassoura virada pra lua, nessas horas vale tudo.

E hoje o dia amanheceu nublado, mas sem chuva, menos mal, fui pedalando tranquilamente pela orla da Pampulha, o tempo estava gostoso, olhei pro céu e fui deixando aquele ventinho bater no rosto e fazer  o cabelo voar.

Fui sem pressa, ainda tinha tempo... Pra que correr?
Quando cheguei ao ponto de encontro o Gino estava la, se arrumando contando os casos, as competições já participadas, foi se vestindo de papai Noel.


Foto: Letícia Tâmara


Aos poucos todos foram chegando o que me deixou mais tranquila, afinal tínhamos olhinhos ansiosos nos esperando. Qual criança não espera pelo bom velhinho não é mesmo?E quantos bons velhinhos tínhamos hoje no nosso pedal de natal.

Foto: Leticia Tamara 

Foto: Leticia Tâmara


Finalmente foi dada a largada, palhaços, ciclistas e vários bons velhinhos, fui olhando os gorros voando, gargalhadas, brilho no olhar, como o ser humano pode ser bonito quando deseja realmente com o coração.
Vários ho ho ho encheram a Pampulha de sorrisos, mesmo as almas mais carrancudas esboçavam um sorrisinho no cantinho da boca,afinal esse sentimento que somente o Natal consegue trazer , as pessoas deveriam manter durante os 365 dias do ano,seria a perfeição e como é fácil seguir a regra, a risca, a vontade basta uma simples palavra ....QUERER!!

Foto: Leonardo


Quando chegamos à Missão Paz, muitas crianças já nos esperavam, fiquei feliz pelos  ciclistas e voluntários que foram e cumpriram o prometido, afinal muito mais que o compromisso com o Pacheco, que foi quem organizou esse pedal, tínhamos uma promessa a ser cumprida e o velho ditado diz: PROMESSA É DÍVIDA.Jamais quebre uma promessa feita a uma criança, ela te espera ansiosa, faceira e se você não vai, um sorrisinho daquele que não tem preço fica sem luz.

Foto: Fernando Marques

Foto: Fernando Marques


Presentes distribuídos, sorrisos espontâneos nos dando paz, missão dada é missão cumprida. Fotos tiradas, momentos registrados. Um domingo feliz  perto de bons amigos, sim, acontecem brigas e desentendimentos, que bom que acontecem por que só assim crescemos.Só assim grandes amizades são firmadas!
No final abraços distribuídos, até logo, feliz natal, feliz ano novo. Carona dada, peguei a Cecília ( minha bicicleta) e vim tranqüila pensando em tudo que se passou.

Foto: Leticia Tâmara

Foto: Fernando Marques


Que em 2014 esses dias se repitam 365 vezes e não somente no natal, que as pessoas se respeitem e se amem mais, que mais ações beneficentes sejam realizadas, que mais mãos, e dedos e braços se entrelacem por que só assim o mundo fica melhor.

Foto: Leticia Tâmara

Foto: Fernando Marques


A atitude de um pode mudar o mundo, claro que pode, mas quando as mãos se unem e os braços se envolvem o universo inteiro vibra em uma só sintonia em um só tom, a nota musical mais bonita, o entendimento universal....O amor!

Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos sem o amor nada somos!
Feliz Natal família do pedal que bons ventos tragam 2014!

Foto: Fernando Marques Fonseca



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

1º Semob de Juiz de Fora - Por um começo de Mudanças no mundo

Semana passada minha vida se resumiu a uma correria total, eu e uma amiga aqui de BH administramos um grupo de palhaços de hospital que faz visitas mensais a instituições de caridade, hospitais, asilos e por ai vai.
Organizamos uma visita durante um mês que acabou não acontecendo infelizmente, mas creio que nada acontece por acaso.

Quando dei a noticia pro Kico (meu namorado) ele pediu pra ajudar com o SEMOB- JF (Seminário de Mobilidade por Bicicleta de Juiz de Fora) e sendo assim eu fui.Nada melhor que lutar por causas que acreditamos.

Cheguei em Juiz de Fora na sexta a noite e começamos a correr atrás dos últimos detalhes, assar pão de queijo (como todo bom mineiro isso não pode faltar nunca) finalizando os últimos preparativos.
No sábado, 1º dia do Semob, apesar de poucas pessoas, o que sinceramente pra mim não faz a mínima diferença, por que eu sempre acredito que as grandes transformações do mundo acontecem de maneira tímida pra tomar grandes proporções la na frente.




Como expectadora e fotografa do evento, fiquei observando toda movimentação dos organizadores, incrível como o olhar diz tudo. Tensão, preocupação, completamente normal, afinal tudo tinha que dar certo, representantes de grupos voltados a mobilidade urbana estariam presentes, Secretário de Desenvolvimento Social, Secretário de Transporte, vereador gente chique tão pensando o que? E como mineiro gosta de receber  “visita” muito bem em casa, não poderia ter sido diferente.

Flávio Cheker - Secretário de Desenvolvimento Social


Rodrigo Tortorello - Secretário de Transporte de JF

E não foi mesmo, o cheirinho de pão de queijo com café servido com todo carinho do mundo refletiu toda alegria no olhar dos convidados, palestrantes e colaboradores, tudo em perfeita sintonia.
Eu poderia entrar em muitos detalhes, mas acho que seria injusto citar um nome ou outro por que todos foram astros nessa historia, astros da vida, da luta pela mudança da qualidade de vida, da luta por espaços compartilhados que nos reaproxime.

Guilherme Mendes - Diretor Mobilicidade JF

Renata Goretti - Arquiteta e Urbanista

Um menino na platéia acompanhava atentamente a palestra da Silvia Ballan, eu fiquei de olho nele, afinal criança é sempre uma caixinha de surpresa. A medida que a Silvia ia falando ele ia cutucando a mãe que meio sem paciência disse:”Ta bom filho eu sei.” Achei  a atitude do garoto fantástica, mas ao mesmo tempo, fiquei olhando com pesar pra ela que deu menos de 5 minutos ao filho. 



Silvia Ballan - Leva a filha pra todos os lugares na sua bicicleta


O mundo está diminuindo e não há distância geográfica que a Internet não possa proporcionar uma aproximação das pessoas que dela se utilizam para manter contatos entre si, mas em contrapartida, essa dependência tecnológica nos afasta cada vez mais de viver a vida real, a vida, essa ai que esta passando do seu lado enquanto você lê inclusive essa matéria.

E vendo que a mãe não deu muita bola, aquele brilhinho que eu vi nos olhos dele enquanto a Silvia falava da relação dela e da filhinha, murcharam e até a posição do corpo dele mudou, ele começou a desenhar e deixou pra la.

A bicicleta proporcionou uma vivência mais intima com o espaço da Silvia em SP, mas também estreitou os laços com a filha que já aderiu a bicicleta como um mundo mágico que só elas sabem como funciona.
Tentar reeducar as pessoas é perda de tempo, talvez uma conscientização funcione melhor, mas lutar contra um sistema “carrocrata” é complicado e requer muita gente unida num so propósito.

Placa que a filhinha da Silva fez pra ela colocar na bicicleta da Mãe


A cidade foi feita pra ser vivenciada, seus vários cheiros, cores, coisas que poucos conseguem perceber, estar e fazer parte da paisagem são duas coisas bem diferentes.

Os palestrantes falavam sobre o pensamento errôneo da construção de vias, as cidades não precisam mais de viadutos, grandes corredores, elas precisam de espaços repensados pra diminuir essa distância dolorosa que nos torna cada vez mais mecânicos.

Viver a cidade, entrar em contato é uma experiência maravilhosa e a muito esquecida, um desprendimento doloroso para os viciados nas “caixinhas” de quatro rodas, afinal como ficar sem o stress proporcionado pelo carro a doença do século. É claro que não podemos ser radicais porque sim, um carro numa situação de emergência é muito eficiente, mas na minha opinião só numa situação de emergência, o resto é criação e um processo de aculturação do capitalismo.

Ava Gambel da Ong Não foi Acidente

Ze Lobo - Transporte Ativo - RJ

Esse seminário foi um chamado a vida, um grito de liberdade, a primeira tentativa da carta de alforria, da sua carta de alforria, a primeira tentativa de muitas, da lei áurea desse século. Mas dessa vez de chicotes invisíveis, de prisões sem grade, de um mundo fictício que inventaram e que enfiaram garganta abaixo das pessoas que passivamente aceitaram.

Um encontro de pessoas, sem títulos, nem rótulos a ninguém, um encontro que nos abriu a mente pra novos planos, novas sementes que serão plantadas. Cada uma num lugar diferente, por que conhecimento guardado não tem serventia, mas quando esse mesmo conhecimento é compartilhado ele se torna palpável, tem cheiro, tem gosto.

Kico Zaninetti - Projeto Nova Origem 

Se uma decisão irradia, que façamos do aprendizado desse primeiro Semob de Juiz de Fora, a luz e o calor que abrirão as primeiras portas pra um mundo melhor, mais pensado, mais compartilhado, mais “REAL” e menos virtual.

Uma nova origem,uma nova High Line,uma vida sem acidentes (aliás Não foi acidente),uma nova esperança.
Que as várias Marinas* pelo nosso Brasil a fora se sintam menos doentes e mais felizes, que elas possam flutuar em suas bicicletas e que vejam que a experiência da beleza , não dessa beleza superficial, mas da beleza existente dentro de cada um de nós que precisa vir antes.

Que mais viagens entre amigos sejam feitas por bicicleta, pra que sigamos no ritmo que a vida realmente quer que sigamos.




Aline Cavalcante - Jornalista e pedala como meio de transporte

Marcelo Miranda - Projeto Nova Origem

Rogério Pacheco - Campeão Brasileiro Ultra ciclista

Deixar Juiz de Fora debaixo de chuva na segunda, me mostrou que ainda corro, que o relógio ainda me domina.Meu Deus - disse eu a taxista- esqueci de me despedir do meu namorado, e uma batidinha na janela, era ele, pra me dar um beijo de despedida, ele também na minha correria se esqueceu.
Mais amor....Menos, muito menos motor!

Porque uma vida vale muito mais que um milhão, uma vida é aquele lugar entre o sonho e o despertar, aquele lugar que quando acordamos ainda nos lembramos dos nossos sonhos.É la que mora a vida de verdade.


Que venham outros seminários, outras sementes e mais luz pro dia nascer feliz!!!




* Marina - Filha da Silvia Ballan que adora andar por SP na garupa da mãe.Voe na sua bicicleta!