Recebi um convite do meu namorado Kico para
participar do III Fórum Mundial da Bicicleta (FMB), que aconteceu em Curitiba
na semana passada, nos dias 13 a 16 de Fevereiro na UFPR (Universidade Federal
do Paraná) e superou todas as minhas expectativas. Foi uma troca maravilhosa de
experiências, trabalhos desenvolvidos entre as pessoas, histórias e buscas.
Eu sempre andei e gostei de bicicleta, mas
sabia que poderia existir muito mais além do que o simples fato de andar ou da
prática como esporte e sim eu estava certa. E o que me abriu os olhos foi a
primeira ciclo viagem que fiz em Janeiro de 2013, exatamente a um ano atrás.
Mas o andar de bicicleta vai além e
transcende o que nossa sociedade prega, talvez por que o ciclo ativista esteja às
margens da sociedade (somos “marginais”), fora desse sistema imbecil que tenta
e às vezes consegue nos oprimir dia após dia.
Foi a primeira vez que andei de avião, aliás,
minto foi à segunda, por que da primeira vez eu saltei de paraquedas, pra que
seguir a risca o que nos dita o senso comum não é mesmo?
Pois bem, a experiência foi interessante, a
única coisa diferente foi o espaço (um teco, teco pra saltar de paraquedas mal
cabem duas pessoas) lanchinho, velocidade e altura,oh céus!!Mas me senti
criança ali, todo mundo se assustava quando eu dizia que nunca tinha andado de
avião (ou quase nunca). Pronto gente incomodada podem ficar menos assustados
agora eu não sou um ET afff. Nosso voo marcado para as 7h, nos fez acordar bem
cedo e claro, fomos pedalando até o aeroporto da Pampulha de onde pegaríamos um
ônibus para o aeroporto Internacional Tancredo Neves, vulgo
Confins..(risos).
Tudo certo, embarcamos nossas bikes pela
Azul, que inclusive merece todo nosso elogio, não criou problema algum, tivemos
apenas que esvaziar os pneus tanto na ida, quanto na volta, nota 10 pra vocês!
Quando pousamos em solo Curitibano, o calor
me surpreendeu e nossa carona já estava nos esperando, várias pessoas chegaram
perto da gente perguntando se não tivemos problemas no embarque das nossas
bikes,por que não tivemos que desmontar uma peça se quer das mesmas.
Se na Azul tudo foi “azul”, na GOL várias
pessoas reclamaram que tiveram problemas e ladainhas no embarque das
magrelas.Gente que nem conhecíamos pediu
pra tirar foto ao nosso lado, foi engraçado, me senti famosa por um segundo
(risos).Ali o clima já estava maravilhoso.
Por ai se percebe que as pessoas que andam
de bicicleta tem essa coisa bonita do tocar, do chegar perto sem medo, de dar
um bom dia com o melhor sorriso no rosto. As atividades começaram assim que
chegamos, deixamos nossas coisas na casa do Tio Kid (Tio do Kico que mora em
Curitiba) e partimos pra UFPR.
Deu um trabalho danado montar a exposição
do Nova Origem com o Kico (“O projeto Nova Origem surge
como uma mudança no estilo de vida através da união de três amigos de
infância em uma volta ao mundo de bicicleta*.”) ficamos a tarde toda por conta, mas o resultado foi fantástico,uma viagem
no tempo e a felicidade pura,simples e verdadeira exposta em 100 fotos
escolhidas a dedo e as pressas.
Exposição Nova Origem |
À noite fomos pra um bar onde todo mundo se
encontrou pra uma confraternização, uma verdadeira invasão de bicicletas na
noite Curitibana. As ideias e pensamentos fervilhavam na minha cabeça.
Kico encontrou um amigo das antigas, o Andre
Pedretti que se juntou a nós nessa confraternização e acabou nos dando carona
pra casa do Tio Kid.
Uma graça o Tio e a Tia do Kico sabe aquela
casa que tem cheiro de açúcar e as pessoas são tão amáveis e gentis que da
vontade de colocar no coração e não largar nunca mais?São esses dois!
Cama quentinha, sorrisos que invadiam tudo,
comida gostosa, uma cadelinha poliglota que me arrancou muitos risos,
resumidamente essa é a casa do Tio Kid Zaninetti e seu olhar amoroso por
debaixo daqueles óculos e Tia Glaucia e seu talento com os lindos bolos que ela
faz pra vender junto com Tio Kid. Coisa mais bonita de se ver é um casal feliz
e que se ama de verdade.
O segundo dia do fórum guardava certa
ansiedade, afinal, seria o primeiro dia oficialmente da exposição Nova Origem. Tudo
certo, tudo pronto hora de abrir as portas para o público.
Mas antes de chegar a sala destinada a
exposição que nos deu uma trabalheira pra montar no dia anterior, o personagem
que me fez mudar completamente a visão sobre a bicicleta estava ali,
materializado na minha frente, Antonio Olinto autor do Livro No Guidão da Liberdade e Rafa
Asprino sua esposa.Fiquei realmente emocionada, confesso que por pouco quase
chorei.Foi incrível estar ali frente a frente com o cara que largou toda a “segurança”
dessa suposta vidinha medíocre que levamos dentro do sistema e se deixou levar
pelo mundo e nele se encontrou e tem sido feliz...muito feliz!
Olinto e Kico |
O Olinto e a Rafa são pessoas comuns, assim
como eu ou como você que esta ai, me dando a honra de ler meu blog,mas são
pessoas que se encontraram, que viram na bicicleta uma forma simples de se
viver, de ser feliz, de deixar de ser número pra virar “SER”.
Foi mágico, estar ali com o professor
(Olinto) e o aluno da estrada (Kico), não me cansava de olhar as fotos e via
nos rosto de cada pessoa a surpresa, o medo, comentários, resenhas, foi interessante vivenciar aquele momento, como
fotógrafa tentei buscar toda pureza, toda surpresa e toda magia daquele instante.
Além do Olinto e da Rafa, a exposição recebeu
a visita do Argus Caruso que também deu a volta ao mundo de bicicleta em 2001.
Cada pessoa que entrava na exposição tinha
uma reação diferente, fiquei pensando no que elas pensavam o que sentiam vendo
as fotos, até que um grupo da turma da limpeza da universidade entrou pra ver
as fotos. Elas me pediram explicação por que o Kico estava ocupado na hora e
não teve como recebe-las..
Fui contando com calma do que se tratava como
surgiu a ideia e uma delas que eu sinceramente não me recordo do nome, disse
pra companheira de trabalho: ”Ta vendo fulana, eu vivo dizendo que a gente não
precisa de tanto.” Aquilo me emocionou profundamente, por que essa é a ideia,
esse é o mundo real, mas as pessoas acreditam que estar as margens de uma
sociedade doente é saudável.
Enfim não estou aqui pra convencer ninguém do
contrário, nem o que quero, mas queria que as pessoas entendessem que a
felicidade não é mercadoria e sim seria o fim de todo capitalismo se todas as
pessoas percebessem isso.
Nesse segundo dia o FMB teve um “Q de pura
magia, foi um dia extremamente significativo, Chris Carlsson,ativista norte
americano, fundador da Critical Mass (Massa Critica) e Renata Falzoni
arrancaram aplausos e lágrimas de uma plateia enorme.A Renata é uma
jornalista,ciclo ativista fantástica, usa a bicicleta a 38 anos como meio de
transporte, ela não so fala da bicicleta como também vive a bicicleta, imaginem
o que é pra essa sociedade coxinha ver uma pessoa chegando num restaurante
desses chique que tem por ai montada na sua magrela,toda suada?Pois é, essa é a
Renata e ela poderia estar no seu carro, mas preferiu a bicicleta e toda sua
simplicidade, toda sua magia e toda sua força contrária ao sistema.
Ouvindo o que a Renata Falzoni falou sobre a
bicicleta na sua vida, sobre o que o Chris disse com o olhar emocionado diante
de toda aquela plateia eu cheguei a algumas conclusões.
Ser contrário ao que o capitalismo e o sistema
pregam é ser considerado marginal, é ser mal sucedido na vida, nossos pais, a
igreja, alguns professores nos ensinaram assim e muita gente nunca parou pra
pensar no significado real dessa palavra... Marginal.
Mendigos, músicos de rua, mochileiros e
tantos outros são considerados “marginais” eles não apresentam perigo pra
sociedade além do perigo da subversão, além de mostrar pras pessoas, pro cara
que se aposentou, que a vida dele é uma grande mentira, que ele poderia ter
sido o que quisesse, feito o que bem entendesse, deixado a faculdade de lado, conhecido
mil pessoas, experimentado todas as sensações, feito amor com aquela aventureira
que mexeu profundamente com seu espírito e que morava dentro de um trailer.
Mas ele preferiu não desapontar o pai
moralista (ou a mãe conservadora,perua e futil) e tentou a vida inteira ficar
rico,e acabou pobre, sem ter conhecido nada do mundo, das várias culturas, da
liberdade dessas amarras invisíveis e ficou ali vendo a vida passar assistindo
Faustão e futebol no velho sofá da sala.
Ouvindo o que a Renata dizia e a expressão do
seu rosto, me fez acreditar que o que sempre pensei não era loucura, que meu
pensamento como alguns diziam ser meio de Alice nos pais das maravilhas, sempre
esteve correto e que sim, eu seguia exatamente o que meu coração sempre me
pediu.
Fazer parte desta sociedade nos prende, nos oprime,
nos deprime e nos torna miseráveis não de dinheiro, por que talvez quem esteja
inserido dentro dessa loucura esteja ganhando muito dinheiro, mas esta na mais
profunda miséria da real felicidade e tenta sem sucesso tapar os buracos
existenciais deixados por essa busca ilusória.
Por que o sistema quer que acreditemos que um
dia seremos felizes comprando uma Ferrari, viajando para praias no Caribe, que
so existem nos nossos sonhos.Seria o fim dos capitalistas se todo mundo parasse
de acreditar na felicidade como alguma coisa material, como mercadoria por que
o sistema é uma fossa sem fim, que suga a vida das pessoas enchendo-as de
esperanças tolas.
Joga fora toda essa propaganda que colocaram
na sua cabeça elas nãos são reais, foram implantadas. Trocar de carro todo ano
NÃO VAI TE FAZER FELIZ, seu filho não quer mais um computador com joguinhos de
ultima geração, ele quer soltar papagaio e andar de bicicleta com você numa
dessas tardes lindas de sábado. Sua esposa não precisa jantares caros, viagens
de navio, ela precisa de uma boa noite de sexo, dessas que você de tanto trabalhar
não consegue a muito tempo, nunca tem tempo por que acha que comprando aquela
cobertura que o sistema vive te falando pela TV você a fará feliz.Sua esposa so
precisa do seu amor e do seu pinto meu caro vai por mim!!
A felicidade esta no abandono o próprio Buda
era um “marginal” o nosso maior ativista Jesus era um marginal vejam so.
Abandone o sistema, de as costas pra ele,
seja de bicicleta, de moto, no seu fusquinha sei la, mas abandone por que ele já
te abandonou a muito tempo.
O que nos torna pessoas não é ter um carrão,
bens materiais (tão descartáveis) que você insiste em ter pra ficar feito um
idiota vazio esfregando na cara do seu vizinho ou o número de mulheres que você
pega pra ficar comendo ou o numero de caras que você com sua beleza plástica
consegue arrancar suspiros. Essa é a porra da cultura do consumismo que consome
de tudo, mas principalmente pessoas.
Seja você, esse você que fica gritando o
tempo inteiro e que você diz:”Nossa eu to ficando doido.”Esse ai é você de
verdade que grita o tempo inteiro te chamando pra felicidade, pra uma vida sem
medo, pra uma vida de novas experiências, muito, muito, muito acima dessa
cultura filha da puta de fracasso contra sucesso.Seja so você, seja feliz, faça
o que você tem vontade de fazer.Sabe aquela vontade largar tudo e sumir?Faça,
aquele ali é você que esta a muito tempo perdido dentro do sistema,dentro de
você mesmo, dentro da bolha.
Eu me encontrei na bicicleta, que me
proporciona estar mais em contato com o real, com a felicidade subversiva, por
que sim a bicicleta nos proporciona isso.
Eu escolhi que eu posso chegar onde eu
quiser usando como meio de transporte a bicicleta, que me proporciona momentos
únicos, onde a comida depois de uma pedalada é mais valorizada seja um simples
arroz com feijão, onde a água chega ser mais doce, onde o céu tem um tom que eu
nunca tinha observado andando sob quatro rodas.
Para alguns quem anda de bicicleta é pobre,
que bom é a pobreza mais preciosa que eu já tive por que foi nela que eu me
encontrei e me descobri de maneiras que eu nunca havia imaginado.
Palestra do Kico e do Ernesto |
Convide as pessoas pra um passeio de
bicicleta ou a pé sei la, mas convide, saia da bolha, saia da sociedade
carrocrata, da carro dependência.Convide seus vizinhos, convide as pessoas para
o amor tão em baixa.Por que é isso que todos procuram no final das contas amor
e por favor,amor no sentido mais amplo da palavra!
A bicicleta pra mim se tornou uma primavera
constante, amores se formam no meio das massas criticas, pelas estradas, por
cidades percorridas de bike durante ciclo viagens, crianças nascem,
crescem,idosos renascem.Sim existe uma mudança em curso e ela esta apavorando o
sistema por que chegará o momento em que o mundo vai perceber que não existe
comida melhor no mundo que uma banana,uma paçoca e um melzinho.
Enquanto eu viajava de volta pra BH o Kico
não soltava minha mão, a decolagem foi tranquila, o pouso mais ainda.Trocamos
poucas palavras durante o voo,minha cabeça fervilhava pra escrever esse texto,
as ideias não se conectavam...mas durante alguns minutos percebi que a única
coisa que importava naquele momento era o encaixe perfeito das nossas mãos,
unidas pela bicicleta durante uma ciclo viagem do Kico que mudou completamente
a minha vida,por que me fez acordar pra coisas que sempre preguei e as quais
sempre fui criticada e o pior eu acreditava nas críticas.
Não eu não adotei o estilo de vida dele pra
mim, eu simplesmente fiz o meu e acredite, eu sou feliz por apenas acreditar,
que em cima de uma bicicleta eu encontrei a fonte da felicidade em uma forma
totalmente alternativa de se viver.
O FMB terminou e me deixou uma cicatriz
perfeita, não tinha sorriso que não fosse sincero, não teve abraço que não foi
aconchego, encontros e reencontros... Família, amor, sinceridade!
A sintonia perfeita de um evento que vai
estar pra sempre na minha história, marcado como o grande dia da minha
transição, o dia em que eu descobri que eu não quero provar nada pra ninguém,
muito menos implantar “verdades” (até por que estas não existem) na cabeça das pessoas...
Eu quero apenas que eu, você que todos sejamos felizes... Simples e puramente
felizes.
Ainda consigo ouvir o som do coração do
Kico batendo enquanto ele carinhosamente me deixava dormir no seu peito no
trajeto de Confins ate a Pedro I, onde eu desceria e iria de bicicleta até a
minha casa... As bikes sacolejavam no bagageiro e a vida explodia dentro do meu
coração!
Dona
Neotides, quero te ver pelas ruas de Medelin no próximo FMB em 2015 hein?
Até la