segunda-feira, 9 de março de 2015

Cicloviagem pela Colômbia rumo ao Fórum Mundial da Bicicleta em Medellin

Foram 450km de pedal pela Cordilheira dos Andes, saindo da sua face oriental, até a cordilheira central da Colômbia, totalizando oito dias de mais uma história pra contar.
Saímos do Brasil no dia 17 de Fevereiro, finalmente o Kico entrou de férias, havíamos nos preparado muito pra essa viagem, além de ser minha primeira viagem internacional, o Fórum Mundial da Bicicleta também aconteceria na cidade de Medellín na Colômbia.
Os preparativos e os aeroportos
Ainda no Brasil minha vida estava uma correria pra conciliar meu trabalho, os preparativos da viagem e minha ida pra Juiz de Fora, pois de la pegaríamos um ônibus que nos deixaria direto no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro.
Peguei uma carona pra JF com o Tiago (um amigo meu e companheiro da viagem com quem o Kico fez de dois anos e meio de viagem de bike) e fomos pro sitio do amigo Caseh passar um carnaval mais tranquilo antes da viagem.
Foi como sempre especial estar entre os amigos no sitio Terra Mãe, sempre bem recebidos, boa comida, boas pessoas e uma oração feita na hora da refeição pelo Caseh e Liz abençoando assim nossa viagem. Pronto agora sim estava tudo certo.
Na segunda pegamos uma carona com Marcelo (um amigo meu e do Kico) até Benfica e de la fomos com nossas bikes até JF.
Em JF tudo pronto pra viagem e eu pra não perder o costume machuquei o dedinho do meu pé na quina da cozinha do Kico, fiquei meio preocupada na hora, não é possível alguém tão desastrada como eu gente...kkkkk.....mas tudo bem, não foi nada sério.
Pegamos o ônibus pro Rio de madrugada, chegando no Galeão a cama foi o chão mesmo por que o cansaço falou mais alto. Despachamos as bikes...uhulll correu tudo bem e tudo pesou menos de 23kg ufa!!!! Nessa hora lembrei da Rafa Asprino me dizendo: “Menos é sempre mais.” Alias Rafa gratidão eterna por você ter me dado as dicas da bagagem a conclusão foi que posso levar muito menos do que levei...rsrsrsrsr
Pronto primeira parte da aventura concluída, agora era fazer a conexão em SP e de la pra Bogotá onde começaria nossa aventura até Medellin.





Bienvenidos a Locômbia!
Chegamos em Bogota, o Brasil ficou pra trás e agora era eu e o meu espanhol meia boca que diga-se de passagem melhorou muito depois da viagem (risos).
No aeroporto de Bogota o amigo do Kico, Andres, mandou outro amigo nos buscar o Diego, ajeitamos as bikes e fomos pedalando até a casa do Andres. Fiquei muito impressionada com a ciclovia de la, são 340Km de ciclovias muito bem estruturadas pela cidade. O transito de Bogota é caótico, mas o de Medellin ganha disparado, meu Deus juro que pensei que estava na Índia por diversas vezes.
Pedalamos 19km até a casa do Andres eu quase dormi em cima da bicicleta estava exausta da viagem mas com o coração cheio de expectativa.
Quando chegamos eu so queria ver cama, na hora de tomar banho outra surpresa, o chuveiro não era quente como alias a grande parte dos chuveiros na Colômbia são frioooosssss. Oh céus tomar banho gelado no calor é uma coisa mas no frio... Bem o jeito foi respirar fundo e entrar com tudo na água.
Acordar em solo Colombiano foi especial, eu queria ver aquilo tudo de dia, Bogotá me chamava pela janela do quarto e quando olhei montanhas e mais montanhas cobertas por casas sem reboco, me lembrou muito as favelas do Brasil, mas la no fundinho uma montanha colossal linda e mais tantas outras atrás dela. Sim Dona Cordilheira agora era você, eu e o Kico... Faltava pouco pra começar... Ali estávamos a 2.600 metros e o máximo que cheguei no Brasil foi 1200 ou 1500 não sei bem... E eu achando que Minas tinha montanha... Sabe de nada inocente!!!
Fomos tomar nosso desayuno (café da manha) eu estava muito curiosa pra saber sobre a culinária Colombiana. A principio tomamos um café normal pan e tinto com leche (pão e café com leite). A Kathya esposa do Andres nos acompanhou pra darmos uma turistada pelo bairro onde eles moram por la. Um gracinha de pessoa e estava grávida, com um barrigão daqueles e subindo uma morraria... Meu Deus fiquei preocupada, mas ela estava bem e super tranquila.
Compramos algumas coisas pra viagem e depois algumas verduras pra Cathia fazer uma comida típica chamada Ajiaco, uma espécie de sopa que leva frango e muitos legumes. Por falar em legumes, os Colombianos se alimentam muito bem, se vê pouca gente obesa na cidade e as frutas são vendidas na rua em toda esquina.
Na Colômbia eu e Kico tivemos que comer carne algumas vezes não teve jeito, mas valeu a pena se entregar aquela culinária.
Foi um dia muito especial antes da viagem, a Kathya e o Andres nos levaram ao centro histórico de Bogotá, uma mistura linda entre o passado e o presente escritos em sua arquitetura do inicio do século com casarões e catedrais góticas lindíssimas espalhadas pelas ruas.






Nos encontramos com Ze Bergo no hostel onde ele estava hospedado, no centro histórico, hostel Fatima, Calle 12c perto da praça La Concórdia muito arrumadinho e com preço bom também.
Ficamos todos por la conversando, combinando a viagem por que a principio o Ze também iria conosco porém sairíamos dia seguinte 19/02 e ele queria ir no dia 20/2. Nosso tempo já estava contado e cronometrado e no dia seguinte partimos nós sem o Zé, porém combinamos de nos (des)encontrar pelo caminho.
Dormi tranquila e com coração batendo forte por que no dia seguinte estaríamos finalmente começando nossa grande aventura rumo a Medellin.







En la ruta!
Saindo de Bogotá o caos era total, carro demais, gente demais... Andres e Diego nos levaram até a saída de Bogotá ou pelo menos até a rota que deveríamos seguir. Antes tomamos mais um desayuno numa daquelas padarias maravilhosas de Bogotá (mais tarde vi que todas eram assim) dessa vez comemos tamal (uma espécie de galinhada feita na folha de bananeira), leite,ovos e arepa. Uma janta no café da manha, mas essa é a coisa boa de viajar de bike.... você pode comer muuuuito mas muito mesmo.
Finalmente a la rutaaa, estávamos la eu, Kico, nossas bikes e a estrada, rumo a Tobia nosso primeiro destino. Pedalar no asfalto é diferente, você tem que prestar muita atenção no trânsito, nos motoristas doidos. Dentro daquele caos tudo funcionava não sei como, mas funcionava.
A estrada que pegamos era linda, montanhas maravilhosas, paisagens de tirar o fôlego, queria muito poder conseguir passar por aqui tudo que senti, mas tem coisas que ficam pra gente, como um presente sem preço.
Pedalamos no plano uns 50km e subimos 5km chegamos a 2.850 de altitude na subida com direito a vento contra e muitas flores pelo caminho, muitas flores. Como o colombiano gosta de cores, de vida e de sorrisos.
Depois de uma descida gigantesca de mais de 40Km chegamos em Tobia, uma cidadezinha linda e de turismo de aventura incrustada no meio das montanhas e de uma mata maravilhosa, uma catedralzinha nos deu as boas vindas de longe. Queríamos encontrar uma área de camping, estávamos exaustos afinal nesse primeiro dia foram 107km.
Ficamos acampados num hotel bem legal que tinha do outro lado da ponte, jantamos e tomamos uma cerveja pra comemorar nossa primeira etapa vencida e com sucesso.
Depois do jantar eu e Kico ficamos deitados numa rede na beira do Rio Negro que ficava de frente pra esse camping onde nos ajeitamos na primeira noite, jogamos conversa fora, falamos sobre coisas da vida... Dormimos felizes e exaustos.









Entre o caminho certo e o duvidoso, para onde acha que fomos?
No segundo dia de viagem o destino seria Villeta mas um espírito aventureiro acordou junto com a gente e resolvemos pegar um caminho diferente.
Tomamos nosso café da manha, sopa de leite com pão, ovos mexidos e banana frita, acreditem uma janta ... (risos) ainda bem que tomamos esse café por que nossa mudança de caminho ia nos exigir.
Imagina o pior morro que você já tenha subido, imaginou? Pois é então quadruplica isso, foi essa a fria mais legal em que eu e Kico nos metemos nesse dia... hahahahha. Batizei-o carinhosamente de Morro do Infinito........................................................................
Na realidade eu empurrei 90% do bendito, por que minha bike resolveu dar problema no cambio então por precaução achei melhor não forçar.
O Kico ia subindo e descendo pra me ajudar, mas houve um momento em que ele também desceu e empurrou a bike dele. Não sei o que é pior, um morro inclinado negativamente ou empurrar a bike.
O calor era de floresta amazônica, aquele calor úmido onde não suávamos, mas escorríamos feito cachoeira, a subida não terminava e a cada curva era mais subida, mais subida, maiiiissssss subida... Quando achávamos que tinha terminado olha la, maiiissss subida. Até que vi um coqueiro carregado e falei com Kico pra gente parar. Pedimos o dono da casa pra pegar e o senhor solícito deixou. Tomamos aquela água com a boca mais gostosa desse mundo. Aquilo deu um gás e continuamos empurrando.
Quando finalmente chegamos ao que chamamos de topo (um dos muitos que ainda enfrentaríamos) vimos um menino sentado em frente a uma vendinha.
Ele como todo mundo nos olhava meio curioso, aquela coisa de menino do interior, observando nosso idioma estranho ao seu mundo. É interessante estar na posição de “gringo” e ver que as pessoas acham diferente tudo que vem de você, sua língua, seu jeito, seus costumes.
Na vendinha uma senhora nos atendeu com um sorriso, conversamos um pouco, tomamos uma gaseosa (refrigerante) e eu comi uma espécie de pão de mel.
Reabastecidos continuamos nossa viagem até Útica um lugar acolhedor e bucólico perdido entre as montanhas colombianas. Conversamos com um senhor que nos disse ser melhor dormimos na cidade e irmos cedinho no dia seguinte.
Ficamos numa espécie de pensão, mais um dia de banho frio... A gente acaba se acostumando, afinal o calor da Colômbia ajuda.
Na pracinha tomamos uma Club Colômbia muito boa por sinal e segundo o Kico uma das melhores cervejas da Colômbia.
Resolvemos ir ao Alto De La Cruz, uma montanha onde tinha uma cruz linda e claro de onde se podia ver a cidade toda. E ai vc deve estar se perguntando se a gente não estava cansado. Bem sim, estávamos sim, mas poxa eu estava numa viagem incrível, num momento lindo eu não ia ficar enfiada em quarto ne?




La fomos eu e Kico subir morro, mas dessa vez andando ou melhor subindo muito novamente, o caminho até o alto era lindo, pássaros de cores fortes, natureza por todos os lados e montanhas colossais.
Chegando no topo duas adolescentes colombianas riam e conversavam felizes, fiquei até sem graça de atrapalhar o papo delas. E quando elas perceberam que éramos “gringos” acho que ficaram tímidas e foram embora.
Sentamos e la ficamos olhando o sol se pôr, numa mistura de cores lindas, o laranja, o amarelo e o azul deixavam a noite entrar de mansinho e uma lua boa sorria pra gente la no céu... Um céu que eu gosto demais, sabe aquela meia lua com uma única estrela? Desse jeito ... Uma meia lua com uma estrelinha tímida deixando um toque de simplicidade e beleza que so a natureza sabe dar. Bem disse Caetano em sua música Lua e Estrela.....




O calor de Útica não me deixou dormir direito, mas deu pra descansar, resolvemos fazer o terceiro dia num caminho sugerido por algumas pessoas da cidade, pelo trilho abandonado de trem, eu chamo esse dia de dia da roubada.(risos)
Levantamos cedo pois sabíamos que seria um dia duro, um dia daqueles, mas eu digo que esse dia foi até engraçado, na realidade foi um dos dias mais engraçados. Foi a primeira vez que vi o Kico muito P da vida... kkkkkkk.
Seguimos a rota do trilho do trem conforme nos foi orientado, no inicio foi um pouco tranquilo, mas logo vimos que seria um caminho daqueles. Chegamos num ponto em que o trilho do trem caiu e tivemos que literalmente escalar com as bicicletas.
Desmontamos as duas bikes, descemos os alforjes, descemos as bikes, subimos com os alforjes, subimos com as bikes num barranco daqueles.
Finalmente do outro lado continuamos seguindo os trilhos que findaram num amontoado de poda de árvore. La vamos nós empurrando nossas bikes no meio daquele fuzuê. De repente um espinho varou meu tênis e daí eu vi a “furada” que literalmente estávamos. O lugar era puro espinho e claro começou ali a saga do pneu furado.
O meu pneu foi o que furou primeiro, depois os dois pneus do Kico furaram não uma, mas duas vezes cada. Um senhor que vinha pela estrada nos viu trocando nossas “llantas pinchadas” e eu digo que esse foi o nosso anjo do dia. Ele nos disse que o caminhos dos trilhos findava num precipício onde um rapaz tinha morrido a um ano. Ele disse que seria impossível passarmos la com as bikes. Resolvemos acreditar no velho senhor que por estar a cavalo me fez acreditar que realmente deveríamos deixar essa ideia de trilho de trem pra la. Afinal alguém que anda a cavalo sabe de todos os caminhos e currutelas.
Voltamos pra cidade, perdemos um tempo danado e muita energia, fomos conversar com o dono do mercado pra dizer o que tinha acontecido. Resolvemos pegar uma carona até Caparrapí por que pedalar ia ser complicado, fora o calor e tínhamos um cronograma a seguir.
Foi então que o dono do mercado nos conseguiu uma carona “ouro” com o pessoal de um velório que estava acontecendo na cidade.
E la fomos nós, num daqueles jipes camionetes da Colômbia, bem típico daqueles filmes do Indiana Jones (risos), dentro so faltava as galinhas, por que até coroa de flores tinha. Alguns adolescentes iam literalmente pendurados do lado de fora junto com um menino. Fiquei rindo sozinha. O velhinho que conduzia o jipão ia falando ao celular (celulares na Colômbia pegam e muito bem em qualquer lugar das montanhas fiquei impressionada) enquanto um precipício do outro lado me apavorava.
E subimos muuuito, mas muito mesmo até Caparrapi dessa vez num jipão muito doido, nossas bikes e bagagem em cima. O Kico em determinado momento ficou filmando do lado de fora.
E então chegamos a Caparrapi (depois explico sobre o nome da cidade) bem o dia em que a cidade estava em festa recebendo o governador do estado, uma confusão. Olhamos uma pensão baratinha, mas acabou que ficamos num hotelzinho bem legal.
O Kico saiu pra olhar algumas coisas pra bike e eu resolvi ficar no hotel pra dar uma descansada e tomar um banho, dentro do chuveiro eu escorrego e caio feio. E mais uma vez machuco não o pé como foi em JF antes da viagem, mas dessa vez a mão. Acho que vou mudar de nome.... Desastrado é melhor hahahahahaha. Felizmente não foi nada sério so mais uma contusão pra minha coleção.
Quando o Kico chegou no quarto falei do ocorrido ele tomou um susto coitado, mas já chegou com programa pra noite. Ele tinha conhecido um casal dono da bicicletaria onde ele tinha ido, a Derly e o Fernando que nos convidaram pra jantar e claro la fomos nós.
Que família linda, nos trataram com tanto carinho, fizeram uma comidinha muito gostosa e eu aprendi a fazer patacones, uma comida bem típica na Colômbia, trata-se de uma banana frita diferente e muito gostosa. Alias como esse povo come banana viu gente eita!!!
Tomamos um tinto (cafezinho) e ficamos conversando e rindo muito, no final a filha do casal nos presenteou com um bilhetinho muito carinhoso, tiramos fotos e deixamos um bilhetinho em português pra eles... Pediram pra deixar em espanhol, mas resolvemos deixar na nossa língua pra dar um trabalhinho e deixar o pessoal curioso.
Regalos trocados era hora de ir embora com o coração acariciado depois de um dia que foi tão difícil..... Chevere, chevere...Chevere!!!







Desencontrados no caminho
Puerto Salgar vai dar o que falar nessa parte da história pois até então estávamos em contato com o mundo virtual e ainda não tínhamos ficado em nenhum lugar que não tivesse sinal de internet apesar de estarmos com chip da Claro local, não conseguíamos fazer o bendito 3G funcionar então ficávamos sempre dependentes de wi-fi.
Combinei com Zé Bergo que nos veríamos em Puerto Salgar e assim ficou combinado, saímos de Caparrapi um pouco tarde e ainda conseguimos nos despedir de Derly e Fernando o casal que nos ofereceu jantar, conversa e carinho.
Tiramos fotos mais uma vez e deixamos pra trás mais um história... assim se faz uma cicloviagem de historias e saudades.
A descida de Caparrapi foi maravilhosa, que visual, que lugar lindo meu Deus de tirar mais uma vez o fôlego. Foi um sopro, um carinho da natureza pra aguentarmos o que eu chamo de El Calderon Del Diablo que viria pela frente na estrada que leva até Medellin.
Depois de tanta descida claro começaria vir as subidas, eu já sabia que teríamos que subir muito, mas muito mesmo. Então quanto mais subíssemos melhor seria por que descer faria a gente subir mais.
La fomos nós pela estrada, muito calor, muita subida, muito transito e na estrada que ia pra Puerto Salgar um calor de 45º na moleira o que fez com que o Kico e eu resolvêssemos mudar nosso trajeto e ir direito para Puerto Triunfo. Não conseguimos avisar o Zé sobre isso o que me deixou preocupada por que eu sabia que ele ia nos esperar por la.
A estrada para Puerto Triunfo é uma estrada plana, sem fim, pior que subir é so andar no plano, fica monótono, chato, irritante.... junta isso tudo com uma mulher de TPM??? E o Kico? O Kico “budicamente sorrindo”... kkkkkk... sofrendo com o calor terrível mas sorrindo.
O Rio Magdalena nos presenteou com um por do sol lindo fechando nosso dia com 100km e nosso primeiro dia sem internet.



Nesse dia a rota seria até Rio Claro e a partir daí subida e mais subida, seriam 3 dias de muita subida.
O dia foi de montanha e a subida foi tensa, muito calor, dores musculares do pedal anterior e a TPM, reclamei demais esse dia coitado do Kico e ele claro com toooda paciência do mundo comigo.... Já te disse que eu te amo ne amor?
Finalmente chegamos a Rio Claro, armamos acampamento na beira de um rio lindo e conhecemos o Ernan Ortiz um ciclista e professor de xadrez que fazia a rota contraria, ele vinha de Medellin a Rio Claro e voltaria no dia seguinte.
Tomamos banho de rio o que fez com que eu relaxasse os músculos, o Kico fez um belo macarrão com temperinho brasileiro que eu já estava com saudades. A noite eu preferi dormir e o Kico ficou conversando com o Ernan. La se foi mais um dia de subida e mais um dia sem internet. Fiquei preocupada com o Zé que deveria estar P da vida com a gente. Mas não conseguíamos sinal em lugar nenhum. Bem, fazer o que? Era esperar e ver o que acontecia.




Mais 40km de subida nos aguardou no dia seguinte até La Tebaida, a paisagem era linda compensava o cansaço muscular e mental. Eu digo que a maior dificuldade de uma viagem de bicicleta é a sua mente, por que é ela quem dita se você vai ou não conseguir chegar ao seu destino... Isso vale pra vida também.
No caminho uma ponte muita legal e dois rios simplesmente fantásticos passavam por ali o rio Samaná de um lado e o Dormilon do outro e claro paramos pra tomar um belo banho nesses rios de águas cristalinas que nos reabasteceu energeticamente.




Finalmente (eu quase sem força e exausta) chegamos a um lugar, uma parada mesmo de caminhoneiros, mais um dia de banho frio, mas dessa vez resolvemos acampar mais uma vez na beira de um rio lindo. Esse seria nosso quintal, ali levantamos acampamento, tomamos banho no rio e jantamos na parada.
Me chamou atenção nesse lugar o banheiro masculino todo aberto kkkkk ... Pra viajar de bike eu já digo meninas não pode ter frescura não é no peito, na raça e no roots literalmente.
Descemos pro acampamento e eu cheia de dores, o Kico fez uma bela massagem com arnica que salvou minha vida e minhas pernas. E mais um dia sem internet e sem dar noticias pro mundo e pro Ze... oh Zéeee... Confesso que gostei de estar assim desconectada e VIVENDO o momento... o presente!!! Mas não deixava de ficar preocupada sem dar noticias pro nosso parceiro de viagem.



Esse seria o dia mais difícil eu o apelidei carinhosamente de O DIA DO CRUX ou seja negada o dia de provar que ali ninguém foi feio. Foram 55km de muita, muita subida até a cidade de El Santuário.
Acordamos cedo enquanto o Kico ia desarmando nossa casa eu ia fazendo o café da manha, um mingauzinho de aveia com banana e chocolate pra dar muita energia na subida.
Já com tudo pronto subimos até a estrada pra nos despedir de mais um lugar e já de cara vi um comboio de bikes com carro de apoio provavelmente indo pra Medellin.
Começamos nossa via sacra não foi fácil, mas quem disse que seria? A estrada cada vez mais linda e foi passando pela minha cabeça todos esses dias de perrengue, de risos, de contusões.
Meu fiel escudeiro também estava cansado apesar da fisionomia ser sempre a mesma, de tranquilidade e alegria. Mas já se via sinais de desgaste e muito cansaço.
Tive que descer da bike algumas vezes e empurrar, não pelo morro por que meu organismo já tinha um botãozinho no automático dizendo: “SOBE.”
Empurrei a bike algumas vezes pelas dores terríveis na lombar e na cervical porém assim que a dor aliviava eu subia na bike e continuava.
Finalmente chegamos, fiquei emocionada tive vontade de chorar mas dei um grande abraço no Kico e ali fiquei lembrando de todos os dias. Tomamos um cafezinho, nosso tinto de cada dia e seguimos viagem, os poucos km até a cidade de El Santuário.
A entrada da cidade era uma bagunça so, mas quando fomos entrando uma catedral linda do século passado enfeitava mais uma pracinha. Paramos nessa pracinha pra tirar uma foto, mais uma pra coleção da viagem e claro comemos uma arepa de queijo que estava divida.
A bicicleta tem esse poder de deixar tudo mais gostoso com um sabor pra ficar guardado pra sempre na memória... É como aquele gosto inenarrável da banana e da paçoca sabe?
Encontramos um hotel e nos demos o prazer de um quatro estrelas com direito a chuveiro quente uhuuu finalmente.
Nem acreditei quando tomei um banho quentinho, gritei e fiz festa debaixo do chuveiro, feito criança quando ganha um presente que estava querendo muito. Fiquei um bom tempo desfrutando da água quente relaxando todos os meus músculos, deixei a água fazer cócegas na cabeça, respirei fundo, passei muito shampoo no cabelo, brinquei com a espuma, deixei a água me limpar. Acho que esse foi o melhor banho que já tomei na minha vida como é bom ter esse “luxo” em casa. E daí fiquei imaginando quantas pessoas não conseguem tomar nem um banho se quer durante o dia.... Pensei nisso durante um bom tempo.
A noite fomos comer uma pizza e claro comemorar mais essa etapa vencida, agora era só dormir e descansar pra terminar de chegar... Faltava muito pouco.
Quando olhamos nosso celulares (nesse hotel tinha wi-fi) vimos que algo tinha acontecido, até a polícia o pessoal que já estava em Medellin chamou por que pensaram que tinha acontecido alguma coisa. Embaixada, policia e família colocados de cabelo em pé. Calma pessoal foi so falta de comunicação mesmo estava tudo bem. Quanto ao Zé... bem ele ficou preocupadíssimo conosco e em Medellin tomamos um bom puxão de orelha... Ah vai ele tava certo!









Enfim, Medellin!
No dia seguinte mais 60km nos esperava, dessa vez de descida finalmente muita descida. Eu já estava muito desgastada fisicamente e qualquer lombadinha pra mim era morro. Uma coisa é você pedalar e descansar pelo menos dois dias outra coisa é você pedalar todo dia sem descanso considerável.
Meu corpo doía demais, durante a descida até a cidade de Medellin um filme passou pela minha cabeça de todos os momentos até ali.
Venci mais esse desafio no peito, na raça e nas pernas, o Kico foi meu companheiro fiel, meu treinador, meu incentivador, meu interprete algumas vezes, um verdadeiro professor da estrada. Me senti muito feliz por te-lo ao meu lado, me senti privilegiada por ter não somente um namorado mas um grande amigo que não me deixava ficar pra baixo hora nenhuma. Que me deu dicas o tempo inteiro, que foi contando casos e mesmo quando ficava caladinho me dizia muito.
Quando chegamos em Medellin um transito feroz nível Índia nos aguardava, mas ali estava eu inteira (ou quase inteira kkk) vencendo mais uma vez meus medos e receios.
A chegada a Plaza Mayor foi como um grande prêmio, fomos recepcionados por muita gente que nem nos conhecia, eu tirei fotos com muitas pessoas, fiz uma entrevista pra Tv local no meu espanhol quase Bogotenho (risos) ganhei un regalo de um senhor que me teceu inúmeros elogios.
Os Brasileiros da casa onde ficaríamos hospedados durante esses dias do Fórum Mundial nos recepcionaram com carinho, aliviados por estar tudo bem conosco depois de vários dias sem comunicação via internet.




A Colômbia me encantou, sua cultura, sua gente e seu carinho pelos brasileiros, não teve um so dia em que alguém tenha nos tratado mal. Era como se estivéssemos no Brasil falando em espanhol.
O colombiano apesar dos inúmeros problemas é um povo feliz, um povo bonito e que passa isso pelo sorriso e pelo trato com o outro.





4º Fórum Mundial da Bicicleta
O Fórum Mundial da bicicleta com certeza marcou pra sempre a cidade de Medellin no ultimo dia uma grande bicicletada e a primeira massa critica da cidade tomou conta de cada avenida, de cada calle,de cada homem, mulher, criança e idoso.Tudo respirou bicicleta, so se falava nisso.
Foi gostoso ver as pessoas em suas bici com um sorriso largo de fora a fora no rosto eu não posso entrar muito em detalhes sobre palestras por que infelizmente eu fiquei muito debilitada um dia depois da chegada a Medellin. Tive desidratação, diarreia e tomei soro por dois dias.
A palestra que vi foi a da Janette Sadick principal Bloomerg Associates e ex-comissária de transportes da cidade de Nova York e do James Ortiz co fundador da ciclovia de Bogotá que deu um show em sua palestra. Conheci rapidamente o secretário de transportes de São Paulo o Jilmar Tatto e claro tirei uma foto pra registrar meu momento Oscar 2015.... Momentos.... rsrsrsrs


Secretário de Transportes de SP - Jilmar Tatto

O fórum trata de tornar as cidades mais humanas o termo mobilidade urbana já esta sendo substituido por mobilidade humana e independente de como ir e vir o que importa são as pessoas e não os carros.
O que importa tratar nesses fóruns são o trato com o outro, o respeito a vida tão deixados de lado.
Na casa onde nos hospedamos com mais 35 brasileiros o clima foi de total harmonia e amor entre todos.




Fizemos muitos amigos queridos que ficaram pra sempre na memória, o Brasil inteiro num único espaço. Não houve brigas em nenhum momento era a casa da alegria.
Um espaço onde foi possível comprovar, que fazer dar certo, basta unicamente a nossa vontade, a casa era de um ex escultor e foi transformada num museu, seus jardins e esculturas espalhados nos contava histórias de alguém que viveu o que acreditava.
E assim deve ser com você caro leitor, viva o que você acredita liberte-se das amarras que o prendem a sonhos que não são seus, arrisque-se mais, ame com vontade, se imponha desafios todos os dias e acredite... Você da conta!
Quem sabe ir pro trabalho de bicicleta hoje? Por que não?
No avião de volta ao Brasil, vi a cordilheira linda no Chile onde fizemos conexão, seus nevados, sua imponência e fiquei feliz de estar ali vivendo o que acreditava com o homem mais lindo do mundo do meu lado.








O sonho e a luta continuam não so pela bici, mas por um mundo melhor pra todos, essa é a verdadeira luta do ciclista... Um mundo melhor e mais humano pra todos nós onde futuro signifique apenas estender a mão.
Valeu demais ... te espero no Chile!!!

“Hay que levantarse cada mañana pensando em algún acto transgressor simplesmente para asegurarse de la própria libertad. No hace falta que sea um becho my importante; com pegarle uma patada al perro es suficiente.”
J.G. Ballard