terça-feira, 1 de abril de 2014

Panamericano de MTB 2014 - Meu primeiro desafio minha quase vitória



Frio na barriga, medo e muitas incertezas, esses foram os sentimentos no começo do sábado que se passou. Quando o Kico me disse: “Minha linda nossa inscrição pro Panamericano de MTB já esta feita, pela primeira vez na vida fiquei com vontade de matar alguém.




Mas resolvi encarar, mesmo acreditando piamente que não conseguiria nem completar a prova,mas milagres também acontecem, podem acreditar nisso.

Na sexta feira depois de uma semana de recuperação pelo “terreno comprado”( gíria que os ciclistas usam quando alguém toma um tombo de bicicleta) no final de semana que antecedeu a competição, eu estava bem preocupada, afinal minha perna ainda não estava 100% recuperada  do tombo e eu não havia andando de bicicleta nenhum dia.

Que responsabilidade e que confiança depositada em mim, no sábado a tensão era enorme, colocamos nossas bikes no carro e fomos pra Barbacena, o clima estava propício pra competição, tempo nublado e fresco. Afinal de contas, nossa prova seria 12h30 horário cruel pra qualquer ser humano que se preze, mas São Pedro foi generoso e deixou um clima bem confortável pra todos.

Enquanto a hora não chegava íamos compartilhando do clima agradável que se espalhava pelo lugar, vários atletas de vários países, amadores, profissionais uma só tribo.
Eu precisava daquilo, daquele clima saudável depois de uma semana nada fácil, ali eu comecei a me reencontrar.

Encontrei a Maria Elisa uma pessoa e amiga incrível de Juiz de Fora que apesar do cansaço estampado no rosto, deixava transbordar a alegria pelo dever cumprido (com louvor, diga-se de passagem) a Med (apelido carinhoso dela) estava radiante, ela trabalhou na assessoria de imprensa e comunicação e sabe-se Deus por quantos perrengues não passou pra ver a coisa toda acontecendo.

Maria Elisa - Med

O importante é que aconteceu e foi maravilhoso tanto pra ela como pra todos que participaram do Pan.
Enquanto a hora fatal não chegava ,eu ia andando pelos bastidores com minha câmera registrando o making-of e nos meus clics e andanças conheci o Maurício Mazzei, um fotógrafo sensacional com um currículo invejável e ficamos trocando algumas figurinhas depois de termos perdido a largada do masculino.(risos)

 
Mauricio Mazzei

O Kico foi entrevistado pela Renata Falzoni um ícone da moçada da bike, ela é fotógrafa, vídeo repórter, bike repórter e cicloativista. Foi pioneira na valorização do uso da bicicleta no Brasil, tendo sido uma das fundadoras do Night Biker's Club do Brasil em 1989.O Kico não perdeu essa oportunidade e falou sobre vários assuntos, inclusive o lindo trabalho do mobilicidade JF que ele e o Guilherme vem desenvolvendo de maneira incrível em Juiz de Fora, modificando aos pouquinhos esse cenário da bike nos grandes centros urbanos.
 
Kico e Falzoi
A grande hora chegou, eu não conseguia segurar o nervosismo, mas descobri que isso é absolutamente normal antes de uma prova, foi só olhar para os lados e perceber que todos estavam como eu.
Quando a largada foi dada o sentimento era de pura emoção, tudo transbordava dentro de mim, um salto pro infinito, um vôo sem mapa de navegação.

Concentração antes da largada

Decidi que se não me concentrasse não seria fácil, então me desliguei de tudo, parei de ouvir os aplausos, os gritos, mas a última imagem que ficou comigo foi a da Maria Elisa (Med) gritando quando nos viu no meio da “manada”: “Vai meu amigo Kico Zaninetti, vai Leticia.”

Depois disso eu me desliguei totalmente, so ouvia a voz do Kico me dando as coordenadas de tudo, marchas, força,gira,gira, vai, ta lindo, ta maravilhoso minha linda, de camisa amarelinha (ele começou a  cantar kkkkk) , vai, so mais um degrau, isso minha linda, depois desse morro estaremos na metade da prova, força , gira,gira,issoooo minha linda, ta maravilhoso,água,banana grudada na boca inteira, descidas, cuidado,dor,dor,muita dor,câimbra, spray na panturrilha,gota de suor escorrendo no meu queixo, chão batido, pedrinhas soltas,pedronas soltas, pneu , cravo do pneu, copo de água, vai,vai, to meu limite Kico não consigo mais forçar, esse é o espírito minha linda.E quando eu vi o olhar do Kico me dizendo mesmo sem falar uma so palavra:”Consegue sim linda vem.”  Nessa hora que eu dei meu ultimo gás, nem sei onde encontrei forças mas encontrei, a outra dupla passou por nós, tentei encostar na menina da dupla, mas ela me ganhou na descida eu ainda não me sinto segura nas descidas.

Faltavam 5km pro final eu já não aguentava mais, ultrapassamos um outro competidor que sofria com as terríveis câimbras, oferecemos um spray pra aliviar mas ele não aceitou, preferiu continuar, respeitamos e não insistimos.Nessas horas cada um se testa a sua maneira, talvez aquele fosse o momento dele.
Quando avistei a tenda, só ouvi o Kico dizer:”Bora linda ta chegando gira, gira.” E foi o que fiz quando chegamos, só ouvi  uma pessoa dizer:”Dupla mista 11º lugar.

Já fiquei muito feliz quando ouvi isso, poxa 11º pra quem nunca competiu e ainda me recuperando de uma lesão, já abri um sorriso daqueles.

Mas o desgaste era terrível, os músculos se contraindo, a perna queimando de dor, mas uma dor que remetia prazer, um grande prazer pelo dever cumprido.

Foi então que ficamos sabendo que quase pegamos pódio, por muito pouco mesmo não ficamos entre os 10 primeiros colocados, ficamos a 24segundos da dupla 10ª colocada.



Eu vi o que move um atleta, não sei se conseguiria explicar, mas ali, naquela hora, com todas as partes do meu corpo gritando eu percebi que o que move o atleta é sim uma paixão que lhe é intrínseca, que é parte dele, que faz com que tudo se mova de uma maneira muito sutil, mas que é peculiar a cada um.
Uma conexão com o que há de melhor em cada um, um encontro marcado com a pessoa mais importante desse mundo...VOCÊ MESMO!!!

Deixar Barbacena pra trás doeu no coração, senti que, apesar do aprendizado maravilhoso sobre a transitoriedade e impermanência da vida, eu poderia fazer o que eu gostaria de fazer e o melhor, não me sentia apegada a esse sentimento. É difícil transpor em palavras, não sei explicar, exatamente, como me senti, acho que me senti livre, me senti como uma tempestade de verão: forte, intensa, sem limites.

Valeu demais, valeu Kico meu amor, meu treinador, trocar olhar com você no final da prova me trouxe a certeza de um amor bonito e acolhedor e valeu a todos os amigos que de forma direta e indireta me empurraram pro alto.


Pra cima....sempre!!!
Que venham os próximos!